quinta-feira, 24 de novembro de 2011

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO - COLOCAÇÃO PR ONOMINAL 3º ANO

lEIA O TEXTO E RESPONDA AS QUESTÕES SEGUINTES.


DIETA DO HOMEM

Nas carteiras da escola me ensinaram, segundo o sábio Claude Bernard, que o caráter absoluto da vitalidade é a nutrição; pois, onde existe, há via; onde se interrompe, há morte.
Mas não me disseram que, entre os animais humanos, o lado que pende para a morte, por falta de nutrição, é mais numeroso que o lado erguido para a vida.
Me ensinaram que os alimentos fornecem ao homem os elementos constituintes da própria substância humana; o homem é o alimento que ele come.
Mas não me disseram que existem homens aos quais faltam os elementos que constituem o homem. Homens incompletos, homens mutilados em sua substância, homens deduzidos de certas propriedades humanas fundamentais; homens vivendo o processo de morte.
Me ensinaram, no delicado modo condicional, que, sem o concurso de certos alimentos minerais e orgânicos, depressa a vida sobre a terra se extinguiria.
Mas não me disseram que, depressa, por toda parte, a vida se extingue, no duro modo indicativo.
Me ensinaram que o oxigênio é o primeiro elemento indispensável.
Mas não me disseram que só o oxigênio é um bem comum de toda humanidade, salvo em minas e galerias, onde é escasso.
Me ensinaram que o carbono, o hidrogênio, o azoto, o fósforo e ouros minerais são decisivos à vitalidade da célula.
Mas não me disseram (por óbvio, mas eu era um estudante tão distraído) que aqueles elementos não se encontram no ar que respiramos. E ainda que se encontrem na terra, acaso digerida por uma criança, seu poder de assimilação é nenhuma.
Me ensinaram que há alimentos orgânicos ternários e quaternários.
Mas não me disseram que dois terços de nossos irmãos no mundo passam fome.
Me ensinaram que os alimentos ternários, constituídos pelas gorduras e pelos hidratos de carbono, são, superlativamente, importantíssimos.
Mas não me disseram que, em cem, dez homens estão, a qualquer hora, às portas da inanição.
Me ensinaram que o ovo, o leite e a carne são alimentos extraordinários.
Mas não me disseram que, em certas regiões do mundo, há homens que consomem ovos, leite e carne em quantidades muito acima das exigências da máquina humana.
Me ensinaram que a sensação de fome é acompanhada de contrações gástricas, uma espécie de cãibra no estômago;mas me disseram isso de maneira impessoal, como se fosse apenas a dedução teórica de acidente possível.
Me ensinaram que as vítimas são substâncias influentes no crescimento e na saúde; quando elas faltam, comparecem o escorbuto, o beribéri, a pelagra e outras doenças.
Mas não me disseram nem onde, nem quantos padecem de avitaminoses.
Nas carteiras da escola me ensinaram muitas coisas.
Mas não me disseram coisas essenciais à condição do homem.
O homem não fazia parte do programa.

Paulo Mendes Campos. O anjo bêbado. Rio de janeiro, Sabiá, 1969.

01. Observe a passagem:
“Me ensinaram, no delicado modo condicional, que, sem o concurso de certos alimentos minerais e orgânicos, depressa a vida sobre terra se extinguiria.”

Explique por que o autor empregou o adjetivo para a expressão “modo condicional” (futuro do pretérito).

02. Apesar de não faltarem alimentos minerais e orgânicos, “a vida se extingue, no duro modo indicativo”. Explique por que o autor empregou o adjetivo “duro” para a expressão “modo indicativo”.

03. O autor faz uma crítica à maneira como a escola ensinou.
a) Indique qual é essa maneira.
b) Explique o porquê da crítica.

04. Você percebeu que durante todo o texto, o autor fez um confronto entre “o que lhe ensinaram” e “o que não lhe disseram”. Explique com suas próprias palavras que tipo de conhecimento a escola ensinou e o que deixou de ensinar.

05. Embora escola tenha ensinado coisas a respeito do homem, o autor chega a conclusão:“ O homem não fazia parte do programa.” Explique o porquê dessa aparente contradição.

06. O título do texto contém uma ironia? Justifique sua resposta.

07. Nos enunciados a seguir, observe a posição do pronome ME em relação ao verbo:
I. Nas carteiras da escola me ensinaram...
II. Mas não me disseram...
III. Me ensinaram...
a) Indique se o pronome foi colocado antes ou depois do verbo.
b) Aponte os enunciados que exemplificam as seguintes regras de colocação pronominal:
• Emprega-se próclise quando houver, antes do verbo, palavras de sentido negativo.
• Emprega-se próclise quando houver, antes do verbo, advérbios ou locuções adverbiais não seguidas de vírgula.
c) Segundo a norma culta da língua, há um enunciado inadequado quanto à colocação do pronome. Aponte-o e explique por que esse tipo de colocação pronominal contraria o padrão culto de linguagem.

08. Considere a resposta que você deu à questão anterior e indique a possível razão para em um dos enunciados, o autor ter optado pela norma popular em vez da norma culta.

09. Releia o parágrafo: ”Me ensinaram, no delicado modo condicional, que, sem o concurso de certos alimentos minerais e orgânicos, depressa a vida sobre a terra se extinguiria”.
Contrariando a norma culta da língua, os pronomes destacados foram colocados antes do verbo.

Se o autor seguisse as regras de colocação pronominal, os pronomes deveriam estar:
a) Ambos depois do verbo: ensinaram-me; extinguiria-se.
b) Depois do verbo e no meio do verbo: ensinaram-me; extinguir-se-ia.
c) Depois do verbo e antes do verbo: ensinaram-me; se extinguiria.

10. Considere sua resposta ao item anterior e aponte a justificativa, segundo a norma culta, para as formas apresentadas.

11. O fato de os pronomes estarem antes do verbos contrariam a norma culta, mas não está em desacordo com o falar dos brasileiros. Comente essa afirmação, explicando qual é a tendência de colocação pronominal do falar brasileiro.

12. Observe que, nos segmentos destacados abaixo, os pronomes foram colocados antes do verbo por razões diferentes.

“Mas não me disseram... que aqueles elementos não se encontram no ar que respiramos. E ainda que se encontrem na terra, acaso digerida por uma criança, seu poder de assimilação é nenhum.”

Aponte o que determinou a próclise em cada um dos segmentos.

13. A colocação de um termo na oração tem muito a ver com o significado que se pretende dar ao enunciado. Se o autor do texto iniciasse os parágrafos com “ensinaram-me” haveria alguma mudança de sentido?

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